4.6.07

Os inteligentes sabem Física


Aos que gostam de ler, recomendo uma visita ao blog do meu colega de colégio de São Bento, o Marcos Faria. É dele a frase "a humanidade é o sketchbook de Deus", postada no assunto "Diários Gráficos: uma prática cotidiana" em Abril.

Em meados dos anos 80, estudávamos juntos no segundo grau e fazíamos textos e imagens para o jornal do grêmio do São Bento. Como havia poucos colaboradores para o jornal, o Marcos escrevia com diversos pseudônimos: Vinícius Silva, M. Faria, e ocasionalmente, Bode, alcunha que ganhou devido a sua nada rala barba. (olha só...gostei da cacofonia destas 3 palavrinhas juntas).

Eu desenhava tudo, desde as crônicas, as propagandas, os cartazes que anunciavam o Sarau, e também camisetas com caricaturas de professores, caverinhas do Iron Maiden nas calças Jeans dos colegas, os tampos de fórmica das mesas... Desenhava tanto que levei bomba no primeiro ano.

Guardo grandes lembranças deste tempo em que os assuntos mais interessantes eram bandas de rock'n roll, rock progressivo, mulheres e o futebol (a ordem de importância era quase essa mesma). Hoje quase não ouço barulho ou zumbido, e futebol não passa nem perto da minha lista de paixões. Gosto da minha mulher, claro.

O Bode parece que ainda gosta de futebol, como se percebe ao clicar no título deste post.

Uma lembrança curiosa foi o dia em que todos os alunos fizeram uma vaquinha para levar o Bolinho a um puteiro. Até o Waldemir, professor de matemática contribuiu com 10 reais. Durante o recreio o plano vazou e o Bolinho... vazou também. Sumiu uma semana, e quando apareceu disse que estava doente.

Lembro do dia em que um temido professor de física, o velho bruxo Loureiro, exaltou em sala de aula as qualidades de um certo aluno "que sabia muito de física e matemática, e por isso era um dos mais inteligentes da escola". Eu pedi licença e levantei o dedo para discordar dele, porque "ninguém escrevia tão bem quanto o Bode, para mim o cara mais inteligente da escola". Meus colegas ficaram boquiabertos com aquela audácia em questionar o gutural Loureiro. O Bode quis se esconder no escaninho embaixo da carteira. E até eu fiquei impressionado comigo mesmo ao ver minha mão levantada e minha boca pedindo licença para discordar. Enfim, arroubos de juventude...

As notas do bode eram tão vermelhas quanto as minhas. Aliás, eu era péssimo, ruiiiim mesmo, mas... sabia desenhar! Desenhava inclusive as minhas provas de física, com aqueles problemas cabeludos que começavam com enunciados literários do tipo "...do telhado de um prédio, um corpo é lançado verticalmente para o espaço na velocidade x, calcule a ...", "Dois trens estão no mesmo trilho em sentidos contrários nas velocidades x e y, e vão se chocar no ponto...".

Aquilo implorava por desenhos!
Em um ano eu tirei sete zeros em física. Mas - questão de honra - minhas provas nunca foram entregues em branco; eram sempre cheias de desenhos.

Aquele aluno elogiado pelo Loureiro "porque que sabia tudo sobre física" fez universidade de dança, e hoje é um renomado diretor de um "Centro de Artes do Espetáculo" de uma universidade na Bahia. Hoje o Bode é jornalista de futebol (ficou quase 10 anos no Jornal dos Sports) e também escritor. Eu sou um ilustrador, professor de artes visuais e também um imbecil que perde tempo escrevendo blog para meia dúzia de manés.
Mas isso não há de durar para sempre.

(a imagem deste post é uma combinação de um desenho que fiz aos 7 anos, e um spread do meu sketchbook "Outlawed")