24.8.08

Consumir !



Segundo o Painel Nacional de Televisão do Ibope, as crianças brasileiras de quatro a 11 anos, assistem em média 4 horas, 51 minutos e 19 segundos, o que coloca o Brasil em primeiro lugar mundial antes dos Estados Unidos, a nação mais consumista do mundo.

Veja na Folha de São Paulo página 3, dia 25/08, este importante artigo de Milu Villela sobre a regulamentação da publicidade voltada para crianças e jovens.

"...O adolescente que assalta para ter o tênis de marca que viu na televisão, o menino obeso que pressiona a mãe no supermercado para experimentar as últimas novidades com gordura trans e a menina sexualmente precoce que até consegue ir à escola sem comer, mas não sem a maquiagem no rosto, são, na verdade, presas fáceis de uma mesma armadilha de apelo ao consumo. São reféns de uma situação grave e preocupante que, no Brasil, não foi ainda tratada com a urgência necessária, considerando os impactos negativos que provoca e ainda poderá provocar na formação educacional das futuras gerações.
Público-alvo de uma indústria que movimenta algo em torno de US$ 15 bilhões por ano, as crianças transformaram-se em um mercado altamente lucrativo. Por conseqüência, tornaram-se objeto do desejo de marcas poderosas que vendem tudo, de biscoitos baratos a games caros. Seus hábitos, gostos e comportamentos passaram a integrar estudos de marketing. Desenvolver uma mensagem capaz de despertar o impulso de consumir uma roupa, um sanduíche e um brinquedo, ou até mesmo produtos que nunca fizeram parte do seu universo, como maquiagem, passou a ser um desafio para criadores de agências de propaganda de todo o mundo."

E mais:

"A publicidade dirigida a crianças deve sim ter limites. E limites muito claros. Ao contrário dos adultos, as crianças não possuem maturidade cognitiva para compreender uma mensagem comercial em toda a sua amplitude. Não dispõem de mecanismos para fazer a necessária crítica ante aos apelos para o consumo. Quando pequenas, não conseguem diferenciar um comercial de brinquedo de um programa de entretenimento. Mas, a todo momento, são submetidas a uma bateria de mensagens comerciais cujo objetivo nada disfarçado é estimular o consumo de produtos e serviços de que não necessitam.
Consumir a última novidade passa, portanto, a ser uma necessidade em si. "

Para se informar mais sobre o assunto, clique no título da matéria.

A autora do texto. Milú Villela, 61 anos, é psicóloga e presidente do Instituto Faça Parte e Embaixadora da Boa Vontade da Unesco. Em novembro de 2002, foi a primeira mulher da sociedade civil a ser convidada para falar sobre o voluntariado na abertura da 57ª Assembléia Geral da ONU.

2 comentários:

Anônimo disse...

Alarca, li numa Istoé recente uma entrevista com o deputado Milton Monti, que está na Frente Parlamentar de Comunicacão Social, e que pelo tom raso das respostas/declarações me pareceu um político alugado pelos publicitários para procurar reverter esse quadro. Apesar de prejudicar (e muito) o mercado de ilustração/design, acredito que a realidade apresentada pela Milu Villela deveria ser prioridade – visto o caso da publicidade de bebidas alcóolicas e cigarro.

Marcos Faria disse...

Isso me lembra uma palestra a que assisti recentemente sobre mercado de internet no Brasil. A palestrante observava o crescimento do acesso das classes C e D e explicava que para os pais essa é uma forma de permitir que seus filhos CONSUMAM a mesma coisa que a classe média e alta (ou bem parecida). Ela chegou a comparar o desejo de usar a internet com o desejo de calçar um tênis da Nike.

Ou seja, a tal da inclusão digital está sendo uma inclusão de consumo, e não de informação.